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1º. DE MAIO NO RIO DE JANEIRO
01 - 04-05-2003
Quis sair de Brasília, fugir da rotina apartando-me do Cruzeiro/Chácara/casa de Pirenópolis, do trabalho na Universidade de Brasília e a produção-comercialização de plantas. Rotina que acabou transformando-se numa prisão movil, com circuitos demarcados e previsíveis. Não pelo enfado ou cansaço com as plantas — que têm uma renovada fonte de interesse — mas pelo trabalho sempre repetitivo de colocar as mudas em vasos e depois distribuí-las pelos lugares de venda.
A Semana Santa foi toda dedicada a uma exposição de orquídeas com que animamos a “inauguração” do Variegatum Viveiro, em Pirenópolis.
Hospedamos o Clauder de Ipameri (GO) e o Bosco de Brasília, comerciantes de orquídeas, que se dispuseram a animar o evento da “expo e venda”. Foi um sucesso, um bom começo para o nosso empreendimento.
Fui ao Rio de Janeiro com o Nildo, no avião da Gol, mas com o pretexto de ver... plantas. Os nossos cicerones foram o casal César e Danielle Suypenne. César veio buscar-nos no Aeroporto Santos Dumont e logo saímos de passeio pela Zona Sul, com direito a um almoço surtido no Restaurante Couve Flor, que fica nos fundos do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, famoso pela variedade e excelência de seu buffet a kilo e pela proximidade com a TV Globo, e a possibilidade de ver os artistas globais — hipótese muito pouco provável agora que a maior parte da programação de filmagens concentra-se nos estúdios de São Paulo e no Kojac de Jacarepaguá. Sempre há filas para ter acesso ao disputado recinto. Mas vale a pena.
Logo continuamos numa bela exposição de orquídeas no Jardim Botânico, passeando pelas aprazíveis e preciosas aleias da famosa coleção botânica criada por D. João VI.
No início da noite fomos a Niterói, de barca, para que eu pudesse matar as saudades de minha juventude, quando eu me deleitava com aquele passeio à capital fluminense. Sempre que eu posso, faço o trajeto marítimo de reminiscências tão gratas e de vista tão emocionante, coroada pelo Cristo Redentor à distância...
Dormimos no novo apartamento de César, disfrutando um ar condicionado providencial, até o sítio dele em Sepetiba, pela orla marítima que vai do Flamengo (onde ele mora), passando por Botafogo, Copacabana, Ipanema, Leblon, Avenida Niemeyer, Barra da Tijuca (onde almoçamos num dos muitos shopping centers da região e pelo Recreio dos Bandeirantes, culminando numa visita às belas e preservadas praias de Prainha e Grumari, verdadeiros relicários ecológicos da Mata Atlântica. Foi oi vice-governador Darcy Ribeirinho que conseguiu o tombamento da área, impedindo ser invadida e destruída pela especulação imobiliária que desfigurou toda a orla marítima fluminense. Como ficou nublado o dia, com maresia forte, não foi possível disfrutar do banho do mar,
mas a paisagem era tão bela que valeu a visita.
No sítio de César, onde ficamos hospedados, foi triste ver o estado da coleção de bromélias, com centenas de gusmanias híbridas queimadas pelo excesso de calor. Parece ter sido o pretexto para o proprietário abandonar a sua produção, depois de investir numa enorme estufa. Espécie de hobby e negócio, o local reúne um fantástico acervo. Depois da crise provocada pelo surto de dengue, com a perseguição e o preconceito contra as bromeliáceas, e a queda das vendas, era previsível o desenlace...
Tudo indica que ele vá abandonar o cultivo, ou — como aconteceu comigo — diversifica a produção.
Jantamos um peixe miúdo da região, preparado pela empregada, na imensa mesa da enorme sala do nosso anfitrião.
No sábado pretendíamos subir a serra para visitar o bromeliário do Hélio Wrobel, em Teresópolis. Como choveu bastante no dia anterior, ficamos temerosos de o passeio ser muito prejudicado, mas acabando cancelando. O próprio Hélio assim quiz, alegando compromissos de família.
Dedicamos parte do dia ao empacotamento de umas mudas de palmeiras que havíamos comprado, no dia anterior, no Horto do Jardim Botânico e fomos a um viveiro na Barra e, depois de recolher a Danielle no Flamengo, seguimos pela ponte Rio-Niterói, na direção do bairro niteroiense de Caramujo, sede da Floralia. Um belo local, com a possibilidade de visitar o condomínio da família proprietária e as atuais instalações em que exibem seus produtos. Plantas de muito boa qualidade, mas poucas novidades para os nossos interesses.
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Foto de César e de Nildo.
À tarde foi coroada pela visita ao fantástico Museu de Arte Moderna, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, num promontório do Ingá, com uma vista exuberante do Rio de Janeiro e da praia de Icaraí. Dentro o magnífico prédio não havia muto o que ver além da beleza arquitetônica e da vista marinha. Para que mais?! Um cenário em que jovens e velhos visitantes eram o verdadeiro espetáculo... Um verdadeiro sucesso de público graças à genialidade do Niemayer.
À noite fomos a um café concert na velha tradicional e boêmia Cinelândia carioca — o Teatro Rival. A cantora era a nova sambista Teresa Cristina, de voz impecável e dicção perfeita, interpretando peças do grande Paulinho da Viola, acompanhada da excelente banda Semente, com destaque para o Paulo Miranda, que também é um ótimo sambista.
Noite realmente agradável! O velho e pequeno teatro tem muito charme e ambiência. Local de apresentação da “Velha Guarda” como Emilinha Borba e Zezé Gonzaga e de novos talentos, todos de muita qualidade, com um público fiel que sempre lota os 400 lugares das mesas no térreo e o mezzanino.
O domingo foi cansativo por causa das filas imensas no aeroporto, com o atraso dos voos e pela escala retardada e irritante da Pampulha e mais irritante no Aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte.
Chegamos tarde e muito cansados (Nildo e eu) a Brasília, com a sensação de que realmente viajar é muito bom,
mas regressar à casa ainda é melhor...
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